Autor:
Lobo Pasolini
Nº de páginas:
92
Data de impressão na GSA:
Julho de 2021
Código:
029476

Prefácio
Tudo o que é lembrado é fictício. A memória é um sistema
de armazenamento contaminado com subjetividades, fantasias
e elipses. A escrita é sempre uma ficção, portanto não é
necessário embaçar a linha tênue que separa um relato factual
de um relato fictício: essa linha é embaçada por natureza.

Nos contos que apresento nas próximas páginas, eu aumento o
volume da promiscuidade entre ‘o que aconteceu’ e o ‘inventado’
na tentativa de criar um híbrido de memória e invenção ancorado
em dados geográficos e temporais que podem corresponder ao
fatual ou não. Eu arrisco dizer que cada unidade de escrita
formata como conto ou relato é, na realidade, um documentário da
minha imaginação durante o ato de escrever (o fatual se limita à decisão de escrever).
Elas são a transformação de um processo químico do meu cérebro
em sinais gráficos que primeiro passam pela versão digital do
meu computador e, se destinados a um final mais feliz,
às páginas de um livro.

Nas páginas de um livro, a ficção se torna um fenômeno físico
na forma de um objeto com odor, volume, textura, uma confortante
presença em nossas vidas como um dos artefatos mais simples e
influentes que a humanidade inventou. Um livro é a condensação
de milhares de fios narrativos, lampejos e ideias que pelas mãos
do escritor se aglutinam e tomam forma para chegar até o leitor
como uma nova experiência.